A transformação econômica atual é marcada por uma influência crescente da gestão e análise de dados, que remodela profundamente o funcionamento dos mercados e a dinâmica entre os agentes econômicos. Essa nova realidade, baseada em um volume sem precedentes de informações, desafia princípios tradicionais da economia ao concentrar o conhecimento em poucas mãos, provocando mudanças estruturais no capitalismo.
O acesso privilegiado a informações detalhadas permite que certos agentes antecipem e influenciem decisões de consumidores e concorrentes, estabelecendo uma vantagem que ultrapassa a simples competição. Essa concentração compromete a livre concorrência, uma vez que o domínio da informação transforma os contratos, historicamente instrumentos para repartir riscos, em ferramentas de controle e dominação por parte dos detentores dos dados.
Além da capacidade preditiva, observa-se um avanço na manipulação do comportamento dos agentes econômicos, que vai além da simples antecipação. A utilização de técnicas sofisticadas, muitas vezes integradas à inteligência artificial generativa, permite influenciar decisões de forma sutil e eficaz, comprometendo a autonomia dos indivíduos e colocando em xeque conceitos como o livre arbítrio no contexto econômico.
A necessidade de um marco regulatório sólido torna-se evidente, não apenas para proteger os direitos sobre os dados pessoais, mas também para preservar os fundamentos do capitalismo, como a competição justa e o funcionamento eficiente dos mercados. Sem controles adequados, a concentração da informação favorece o fortalecimento de poucos agentes, criando barreiras que prejudicam a inovação e dificultam a entrada de novos participantes no mercado.
No atual cenário, a informação é o ativo estratégico mais valioso, e o modo como é coletada, processada e utilizada pode determinar o equilíbrio entre benefício social e abuso de poder. Esse contexto exige maior transparência e responsabilidade por parte das empresas que operam com dados, além de um debate aprofundado sobre a governança e ética na economia digital.
A transformação também redefine o conceito de mercado, que deixa de ser um espaço de interação entre agentes livres para se tornar um ambiente onde decisões são monitoradas, previstas e, em alguns casos, manipuladas. Esse fenômeno gera reflexões essenciais sobre os limites da tecnologia e sobre a necessidade de salvaguardar a liberdade e os direitos dos cidadãos.
Outro aspecto impactado é a natureza dos contratos comerciais. A assimetria informacional gera um desequilíbrio onde a parte mais informada detém poder para impor condições e limitar o risco da própria atuação, comprometendo a equidade das relações comerciais e a confiança no sistema econômico.
Diante desse panorama, o desafio regulatório é complexo e urgente. É fundamental que as soluções legais contemplem o equilíbrio entre inovação, competitividade e proteção de direitos fundamentais, evitando que o uso massivo e indevido da informação se transforme em um mecanismo de concentração de poder que fragilize os pilares do capitalismo e comprometa a democracia.
Autor : Otávio Costa